A Suécia é um dos países mais gelados do planeta. Sua proximidade com o polo norte e os poucos raios solares que aparecem por lá garantem um ano inteiro de baixas temperaturas, onde o termômetro raramente passa dos 15 °C.
Bem ao norte do país, em uma região muito pouco habitada, fica a pequena vila de Jukkasjärvi, localizada a 200 km acima da linha do círculo polar ártico, onde moram aproximadamente mil moradores. Mas no inverno, a região quase inóspita recebe mais de 40 mil turistas em suas terras geladas.
O que tanta gente procura numa das cidades mais frias de um dos países mais frios? Além do fenômeno do sol da meia-noite – quando o sol não se põe por vários meses – e da Aurora Boreal, é possível se hospedar em um hotel inteiramente feito de gelo – o primeiro do mundo. Descubra como ele funciona e como sobrevivem os hóspedes que ficam lá. É de gelar os ossos!
Treinamento de sobrevivência
O verão sempre atraiu visitantes para Jukkasjärvi, graças aos fenômenos naturais da natureza que só aparecem nesse ponto mais extremo do planeta. Mas a pequena vila se esvaziava no inverno e a alegação dos turistas sempre foi a mesma: não havia o que fazer no frio e escuridão da pequena vila (o sol nunca passa do horizonte nessa época do ano).
Foi então que Yngve Bergqvist, fundador do hotel feito de gelo, resolveu visitar diversos destinos turísticos “gelados” no ano de 1989. Um de seus destinos foi Sapporo, no Japão, famosa por seu festival anual de gelo e neve.
Inspirado pelo festival, Bergqvist organizou em novembro do mesmo ano um seminário em Jukkasjärvi para ensinar a arte de trabalhar em gelo, convidando dois artistas japoneses. No ano seguinte foi construída a primeira estrutura de neve da vila, onde foi realizada uma exposição de arte.
Em 1992, a exposição novamente estava montada em uma estrutura de gelo, e todos os hotéis do local estavam lotados. Mesmo assim, um grupo de visitantes insistiu em ficar hospedado na vila e Bergqvist teve uma ideia: eles ficariam na própria estrutura de gelo com sacos de dormir e ainda passariam por um treinamento de sobrevivência.
Depois do pernoite, ele entregou um diploma para os corajosos hóspedes, como prova de que eles haviam sobrevivido a uma noite de -5 °C. Todos ficaram fascinados com a experiência, e foi nesse momento que surgiu a ideia do hotel de gelo.
Funcionando até derreter
Desde então, ano após ano, um novo hotel de gelo inteiramente novo é produzido. Sua construção começa em novembro, com a criação da estrutura básica do hotel. Em meados desse mês (quando é outono no hemisfério norte), grandes canhões de neve pulverizam toneladas de gelo sobre enormes estruturas de aço que são deixadas para congelar.
Assim que elas ficam geladas o suficiente, os quadros de aço são removidos, deixando os corredores de neve totalmente independentes. Com o layout básico do hotel completo, a segunda etapa da construção começa, com grandes blocos de gelo transportados diretamente do rio Torne para o local.
Em seguida, esses blocos são acoplados na estrutura do hotel e um grupo de artistas internacionais trabalha na criação de arte e design do material. São esculpidos todos os móveis (cadeiras, camas, mesas, cabides, entre outros), obras de arte e formas de todos os espaços. Além do hotel, o complexo gelado conta com um bar e uma igreja de gelo. Opções para todos.
Cada quarto é praticamente uma obra de arte com decoração e objetos esculpidos no gelo. Por isso, eles ficam disponíveis para visitas antes de serem ocupados. São produzidos entre 50 e 60 quartos por temporada, cada um com um design único.
O ICEHOTEL só funciona no inverno, pois é apenas nesse período que suas paredes conseguem ficar em pé sem derreter. Existe uma estrutura fixa, feita de madeira, usada para hospedar os turistas nos períodos mais quentes do ano, onde fica um restaurante e os “quartos quentes” (que também são usados no inverno).
Um bar todo feito de gelo para esquentar o "ânimo" dos turistas
Sobrevivendo ao ICEHOTEL
Não basta apenas vestir quatro blusas de lã, duas calças e três meias para poder ficar no hotel feito de gelo. É necessário todo um cuidado especial para evitar acidentes e tragédias com os hóspedes. No check-in todos recebem um treinamento de sobrevivência para suportar o pernoite.
A bagagem dos turistas fica armazenada na estrutura de madeira, para não congelar. Os banheiros também ficam lá, já que é impossível (por razões óbvias) usar um vaso sanitário, chuveiro ou pia de gelo. Por isso, nada de tomar muito café durante a noite, ou será necessário sair do saco de dormir, atravessar o tempo gelado e entrar no hotel de madeira.
As camas de gelo contam com uma estrutura de madeira por cima, coberta por pele de rena. É preciso buscar seu saco de dormir na recepção para você dormir nela. Recomenda-se roupa térmica e gorro de lã para suportar o frio abaixo de zero. Todos os hóspedes são acordados às 7h30 com um suco de amora-alpina quente (?) e em seguida são convidados a se dirigirem ao restaurante, para tomar um café da manhã reforçado.
O hotel recomenda que você alterne uma noite no hotel gelado com várias noites no hotel “quente” (de madeira). Apesar de a temperatura fora do hotel poder alcançar extremos, ela nunca passa de -8 °C dentro dos quartos de gelo e neve. Pode parecer uma temperatura muito baixa (e na verdade é), mas externamente ela chega a -50 °C.
Diversão gelada (e salgada)
Neste ano será construída a 22ª versão do ICEHOTEL. No total, a estrutura será composta por 47 quartos: uma suíte “deluxe”, 16 suítes artísticas, 20 quartos de gelo, oito quartos de neve, e dois quartos coletivos de gelo.
Artistas de 15 países vão colaborar com o design do ICEHOTEL entre os dias 6 de novembro e 8 de dezembro. Milhares de pessoas são esperadas para a temporada deste ano, incluindo mais de 100 pombinhos que farão seus votos de casamento na Igreja de Gelo (que fica anexa ao hotel). E claro, muita festa promete esquentar o local no Absolut Ice Bar, onde até os copos são feitos de gelo.
Grande parte dos turistas começa a chegar em dezembro, para acompanhar o processo de criação do hotel. O ICEHOTEL fica aberto até o final de abril, quando o fenômeno do sol da meia-noite se estabelece na região e derrete toda a estrutura de gelo.
Os preços para se hospedar no ICEHOTEL variam muito e dependem do quarto e da época do ano. A diária mais barata é o quarto duplo Kaamos, que fica na estrutura de madeira, por 1,150 mil coroas suecas (cerca de 300 reais). A mais cara é a suíte “deluxe” do hotel de gelo, e sua hospedagem custa 7 mil coroas suecas (1,8 mil reais aproximadamente). Café da manhã, sauna matinal e toalhas estão inclusas na diária.
As atividades oferecidas pelo hotel contam com passeios em motos de neve, safari da vida selvagem do ártico, passeios de trenó puxados por cães, esculturas de gelo, e muito mais. Todas são cobradas à parte com preços que variam entre 350 coroas suecas (92 reais) a 25 mil coroas suecas (6,6 mil reais).
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